👠If you Walk in my shoes, it will hurt your feet
A partir do momento que comecei a investigar sobre caminhar como prática artística com um recorte de gênero, comecei a ser questionada, principalmente por homens cisgênero e heterossexuais, se de fato isto do assédio seria ‘um problema’ para a prática. A maioria dos homens que me questionavam diziam que a ‘violência urbana’ era um problema geral, e que já haviam sido assaltados ou agredidos em tentativas de assalto. Nenhuma mulher ou pessoa LGBTQIA+ com quem conversei sobre a investigação questionaram minhas motivações ou temática de pesquisa.
Foi lógico perceber que a maioria dos homens que me questionavam não percebiam as diferenças entre o que eles chamavam de ‘violência urbana’ e o que nós entendemos como ‘violência de gênero’ pelo simples fato de nunca terem experienciado este fenômeno e não terem uma percepção alargada de que suas experiências em espaço público e social podem ser diferentes de outras identidades.
As identidades (ou identidades percebidas) são como sapatos que usamos e pelos quais experienciamos o nosso ‘caminhar’ pela vida social. Apesar destes sapatos nos ‘servirem’, ou seja, apesar de nos identificarmos nestas identidades, estes sapatos também carregam opressões que nos machucam, não são sapatos nos quais o caminhar é confortável ou mesmo possível. Alguns sapatos dificultam a caminhada, machucam, cortam, são pesados ou frágeis. “ If you Walk in my shoes, it will hurt your feet” (2021- ongoing) é uma série de sapatos intervencionados que são difíceis ou mesmo impossíveis de serem utilizados para caminhar. Em um primeiro momento foram produzidos dois pares de sapatos que impossibilitam ou dificultam a caminhada.
No entanto, pensando em sapatos como analogias de identidades podemos também dizer que cada um de nós, podemos ter sapatos diferentes, que nos machucam de forma distinta ou sobreposta (sexismo, racismo, lgbtqia+fobia, etc). Pretendo então continuar esse projeto com um caráter colaborativo com outras/outros/outres artistas/artistes para pensar em como suas identidades sofrem opressão na ação do caminhar.